quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Crepusculo - Epilogo

Edward me ajudou a entrar no carro dele, sendo muito cuidadoso com os detalhes de seda e chiffon, as flores que ele colocou nos meus cachos estilosamente elaborados, e o grande gesso na minha perna. Ele ignorou a expressão de raiva da minha boca.
Depois que ele me ajeitou, ele foi para o banco do motorista e saímos pelo caminho longo e estreito.
"Em que ponto você pretende me dizer exatamente onde estamos indo?", eu perguntei fazendo beicinho. Eu odiava surpresas. E ele sabia disso.
"Eu estou chocado que você ainda não tenha descoberto". Ele jogou um sorriso de zombaria na minha direção, e a minha respiração ficou presa na garganta. Será que um dia eu ia me acostumar á perfeição dele?
"Eu mencionei que você está muito bonito, não mencionei?", eu verifiquei.
"Sim", ele sorriu largamente de novo. Eu nunca havia visto ele vestido de preto antes,e, com o contraste na pela pálida dele, a sua beleza era absolutamente surreal. Isso eu não podia negar, até o fato de que ele estava usando um smoking estava me deixando nervosa.
Não tão nervosa quanto o meu vestido, ou o sapato. Só um sapato, já que o meu pé estava seguramente preso no gesso. Mas o salto agulha, preso apenas pelos laços de fita de cetim, certamente não iam me ajudar quando eu tentasse me movimentar.
"Eu não vou mais voltar se Alice continuar me tratando como a Barbie porquinho-da-índia quando eu vier". Eu estorqui. Eu passei a melhor parte do dia presa no banheiro estonteantemente grande de Alice, eu fui uma vítima desamparada enquanto ela brincava de cabeleireira e maquiadora. Quando eu tentava escapar ou reclamava, ela me lembrava que não tinha memórias de como era ser humana, e me pedia para não atrapalhar a sua vigorosa diversão. Então ela me vestiu com um vestido ridículo - azul escuro, cheio de detalhes e sem os ombros, com uma etiqueta francesa que eu não consegui ler - um vestido que combinava mais com uma passarela do que com Forks.
Nada de bom podia sair de uma vestimenta formal, disso eu tinha certeza.
A não ser... mas eu estava com medo de colocar as minhas suspeitas em palavras, mesmo em minha própria cabeça.
Eu fui distraída pelo som do telefone tocando. Edward puxou o telefone do bolso do seu paletó, olhando brevemente no identificador de chamadas antes de atender.
"Alô, Charlie", ele disse cautelosamente.
"Charlie?", eu fiz uma careta.
Charlie tem sido... difícil desde o meu retorno á Forks. Ele compartimentou minha má experiência em duas reações. Com Carlisle ele era quase idolatradamente grato. Por outro lado, ele estava teimosamente preso á idéia de que era culpa de Edward - porque se não fosse por culpa dele eu não teria ido embora de casa em primeiro lugar. E Edward estava longe de discordar dele. Nesses dias eu estava tendo regras que nunca tive antes: Toque de recolher... horários de visita.
Alguma coisa que Charlie disse fez os olhos de Edward crescer de descrença, e então um grande sorriso apareceu no rosto dele.
"Você está brincando!", ele deu uma risada.
"O que é?", eu quis saber.
Ele me ignorou. "Porque você não me deixa falar com ele?" Edward sugeriu com um prazer evidente. Ele esperou por um segundo.
"Olá, Tyler. Aqui é Edward Cullen". A voz dele estava amigável, na superfície. Eu conhecia esse tom bem o suficiente pra ouvir a leve ponta de ameaça. O que é que Tyler estava fazendo na minha casa? A horrível verdade começou a descer sobre mim. Eu olhei novamente para o vestido inapropriado que Alice havia me forçado a usar.
"Eu lamento se houve alguma espécie de falta de comunicação, mas Bella não está disponível essa noite". O tom de Edward mudou e a ameaça ficou de repente muito mais evidente enquanto ele continuava.
"Pra falar a verdade, ela não estará disponível noite nenhuma, quando se tratar de alguém que não seja eu mesmo. Sem ofensa. Eu lamento pela sua noite". Ele não parecia lamentar nem um pouco. E então ele fechou o telefone com um estalo, um grande sorriso no rosto dele.
Meu rosto e meu pescoço estavam vermelhos de raiva.
Eu podia sentir as lágrimas induzidas pela raiva começarem a encher meus olhos.
Ele olhou pra mim surpreso. "A última parte foi demais? Eu não pretendia te ofender".
Eu ignorei isso.
"Você está me levando para o baile!", eu gritei.
Agora era embaraçosamente óbvio. Se eu estivesse prestando um pouco de atenção, eu teria reparado a data nos cartazes que estavam decorando os prédios da escola. Mas eu nunca sonhei que ele me submeteria a isso. Será que ele não me conhecia nem um pouco?
Ele não estava esperando a força da minha reação, isso estava claro.
Ele pressionou os lábios e revirou os olhos. "Não seja difícil, Bella".
Meus olhos foram para a janela; nós já estávamos no meio do caminho para a escola.
"Porque você está fazendo isso comigo?", eu quis saber, horrorizada.
Ele fez um gesto para o smoking. "Sério, Bella, o que você achou que estivéssemos indo fazer?"
Eu estava mortificada. Primeiro, porque eu não vi o óbvio. E também porque minha a vaga suspeita - esperança, na verdade - do porque eu estivesse me arrumando o dia inteiro, enquanto Alice me transformava numa Rainha da beleza, estavam muito distantes da realidade.
As minhas esperanças pareciam muito bobas agora.
Eu achei que havia alguma ocasião brotando. Mas baile! Essa foi a última coisa que passou pela minha cabeça.
Lágrimas de raiva rolaram pelas minhas bochechas. Eu lembrei com desânimo que estava descaracteristicamente usando rímel. Eu limpei rapidamente embaixo dos olhos pra prevenir qualquer mancha. Minha mão não estava preta quando eu a puxei; Talvez Alice soubesse que precisaria de maquiagem á prova de água.
"Isso é completamente ridículo. Porque você está chorando?", ele quis saber frustrado.
"Porque eu estou com raiva!"
"Bella", ele usou toda a força dos seus ardentes olhos dourados em mim.
"O que?", eu murmurei, distraída.
"Me distraia", ele insistiu.
Seus olhos estavam derretendo toda a minha fúria. Era impossível brigar com ele quando ele trapaceava daquele jeito. Eu desisti sem glória.
"Está bem", eu fiz beicinho, sem conseguir sem tão efetiva quanto eu esperava ser. "Eu vou quieta. Mas você vai ver. Eu sempre estou aberta á mais má sorte. Eu provavelmente vou quebrar minha outra perna. Olhe pra esse sapato! É uma armadilha!", eu levantei minha perna como evidência.
"Hmmmm", ele olhou para a minha perna por mais tempo do que o necessário. "Me lembre de agradecer Alice por essa noite".
"Ela vai estar lá?" Isso me confortou um pouquinho.
"Com Jasper, Emmett... e Rosalie", ele admitiu.
O sentimento de conforto desapareceu. Eu não fiz muito progresso com Rosalie, apesar de estar em muitos bons termos com o seu as vezes marido. Emmett gostava de me ter por perto - ele achava que as minhas reações humanas bizarras eram hilárias... ou talvez fosse só o fato de que eu caia muito que ele achava engraçado. Rosalie agia como se eu nem existisse. Enquanto eu balançava a minha cabeça pra dissipar a direção que os meus pensamentos tinham tomado, eu pensei em outra coisa.
"Charlie está nisso tudo?", eu perguntei, suspeitando de repente.
"É claro", ele sorriu, e depois gargalhou. "No entanto, aparentemente, Tyler não estava".
Eu travei meus dentes. Como Tyler podia ter se iludido tanto, eu não podia imaginar. Na escola, onde Charlie não podia nos atrapalhar, Edward e eu éramos inseparáveis - exceto por aqueles raros dias de sol.
Estávamos na escola agora; o conversível vermelho de Rosalie era notável. As nuvens estavam finas hoje, haviam alguns finos raios de sol escapando no céu á oeste.
Ele saiu e deu a volta no carro pra abrir minha porta. Ele levantou sua mão.
Eu fiquei teimosamente sentada no meu banco, com os braços cruzados, sentindo uma punção secreta de presunção.
O estacionamento estava lotado de pessoas vestidas formalmente: testemunhas. Ele não podia me remover á força do carro como já teria feito se estivéssemos sozinhos.
Ele suspirou. "Quando alguém tenta te matar, você é corajosa como um leão - e aí, quando alguém menciona dançar...", ele balançou a cabeça.
Eu engoli seco. Dançar.
"Bella, eu não vou deixar nada te machucar - nem você mesma. Eu não vou largar de você em hora nenhuma, eu prometo".
Eu pensei nisso e de repente estava me sentindo muito melhor. Ele podia ver isso no meu rosto.
"Isso, agora", ele disse gentilmente. "Não vai ser tão ruim assim". Ele abaixou e passou um dos braços pela minha cintura. Eu segurei a outra mão dele e ele me puxou pra fora do carro.
Ele manteu o braço apertado ao meu redor, me segurando enquanto eu mancava em direção á escola.
Em Phoeniz, eles fazem bailes em salões de hotéis. Esse baile era no ginásio da escola, é claro. Possivelmente era o único espaço grande o suficiente para um baile. Quando nós entramos, eu dei uma risadinha. Realmente havia balões com formatos e ornamentos de papel crepe enfeitando as paredes.
"Isso parece um filme de terror esperando pra acontecer", eu ri silenciosamente.
"Bem", ele murmurou enquanto nos aproximávamos da mesa dos ingressos - ele estava carregando a maior parte do meu peso, mas eu ainda tinha que arrastar e empurrar o meu pé para frente - tem mais vampiros presentes do que o necessário".
Eu olhei para o espaço de dança; um espaço grande havia se aberto no espaço, onde dois casais rodopiavam graciosamente. Os outros dançarinos se empurravam nos lados para dar espaço á eles - ninguém queria contrastar com o brilho deles.
Emmett e Jasper estavam intimidantes e indefectíveis em seus smokings. Alice estava arrebatadora num vestido de cetim preto com detalhes geométricos que abriam triângulos na sua pele branca da cor da neve. E Rosalie estava... bem, Rosalie. Ela estava além da imaginação. Seu vívido vestido vermelho era aberto nas costas, apertado na panturrilha onde se abria um detalhe flutuante, com um decote que ia do seu pescoço até a cintura. Eu senti pena de todas as garotas presentes, eu mesma incluída.
"Você quer que vá fechar as portas pra que você possa massacrar os moradores da cidade sem levantar suspeita?", eu sussurrei conspirando.
"E onde é que você se encaixa nesse esquema?", ele olhou pra mim.
"Oh, eu estou com os vampiros, é claro".
Ele sorriu com relutância. "Qualquer coisa pra se mandar do baile".
"Qualquer coisa".
Ele comprou nossos ingressos, e então me virou na direção da pista de dança. Eu me agarrei nele e levantei meu pé.
"Eu tenho a noite inteira", ele avisou
Eventualmente ele me arrastou pra onde a família dele estava rodopiando elegantemente - em um estilo que não se adequava nem um pouco á música que estava tocando agora. Eu observei horrorizada.
"Edward", minha garganta estava tão seca que eu quase não consegui sussurrar. "Eu honestamente não posso dançar!", eu podia sentir o pânico borbulhando no meu peito.
"Não se preocupe, boba", ele sussurrou de volta. "Eu posso". Ele colocou meus braços ao redor do pescoço dele e me levantou pra colocar os pés dele embaixo dos meus.
E então estávamos rodopiando também.
"Eu me sinto como se tivesse cinco anos de idade", eu sorri depois de alguns minutos de rodopio sem esforços.
"Você parece ter cinco anos", ele murmurou, me puxando mais pra perto por um segundo, assim meus pés ficaram á alguns centímetros do chão por alguns segundos.
Alice encontrou meu olhar numa volta e sorriu me encorajando - eu sorri de volta. Eu estava surpresa de perceber que eu realmente estava aproveitando... um pouco.
"Ok, isso não é inteiramente ruim", eu admiti.
Mas Edward estava olhando na direção das portas, e o rosto dele aparentava raiva.
"O que foi?", eu me perguntei em voz alta. Eu segui o olhar dele, desorientada pelos rodopios, mas eu finalmente vi o que estava incomodando ele. Jacob Black, não de smoking, mas com uma camisa de mangas longas e de gravata, seu cabelo puxado pra trás no seu rabo de cavalo de sempre, estava atravessando a pista em nossa direção.
Depois do primeiro choque do reconhecimento, eu não pude deixar de me sentir mal por Jacob. Ele estava claramente desconfortável - dolorosamente desconfortável.
O rosto dele estava pedindo desculpas enquanto seus olhos encontravam os meus.
Edward rosnou bem baixinho.
"Se comporte" eu soprei.
A voz de Edward estava severa. "Ele quer conversar com você".
Jacob chegou até nós nessa hora, a vergonha e as desculpas ainda mais evidentes no rosto dele.
"Ei, Bella, eu estava esperando que você estivesse aqui". Jacob soou como se ele estivesse esperando exatamente o contrário. Mas o sorriso dele estava tão cálido como sempre.
"Oi, Jacob", eu sorri de volta. "E aí?"
"Eu posso atrapalhar?", ele pediu tentadoramente, olhando pra Edward pela primeira vez. Eu estava chocada de ver que Jacob nem precisou olhar pra cima. Ele já deve ter crescido uns cinco centímetros desde a primeira vez que eu vi ele.
O rosto de Edward estava composto, sua expressão vazia. A única resposta dele foi me colocar cuidadosamente nos meus próprios pés, e dar um passo pra trás.
"Obrigado", Jacob disse amigavelmente.
Edward só balançou a cabeça, olhando pra mim atentamente antes de se virar e ir embora. Jacob colocou as mãos na minha cintura, e eu coloquei as minhas mãos nos ombros dele.
"Nossa, Jake, qual é a sua altura agora?"
Ele estava presumido. "Um e oitenta e quatro".
Nós não estávamos realmente dançando - minha perna tornava isso impossível. Ao invés disso ele se movimentava estranhamente de um lado pra o outro sem movermos os pés. Estava tudo bem; o súbito crescimento tinha o deixado parecendo meio desequilibrado e desordenado, ele provavelmente não era um dançarino melhor que eu.
"Então,como é que você veio parar hoje?", eu perguntei realmente curiosa.
Levando em conta a reação de Edward, eu já podia advinhar.
"Você acredita que meu pai me pagou vinte pratas pra que eu viesse ao seu baile?", ele admitiu, um pouco envergonhado.
"Sim, eu acredito", eu murmurei. "Bem, pelo menos eu espero que você aproveite, pelo menos. Já viu algo que você gostasse?", eu caçoei, balançando a cabeça na direção de um grupo de garotas alinhadas na parede com os enfeites.
"Sim", ele suspirou. "Mas ela está acompanhada".
Ele olhou pra baixo pra me olhar nos olhos só por um segundo - então nós dois desviamos o olhar, envergonhados.
"Aliás, você está muito bonita", ele acrescentou, timidamente.
"Umm, obrigada. Então, porque Billy te pagou pra vir até aqui?" eu perguntei rapidamente, apesar de já saber a resposta.
Jacob não pareceu agradecido pela mudança no assunto; ele desviou o olhar, desconfortável de novo. "Ele disse que aqui seria um lugar 'seguro' pra conversar com você. Eu juro que o velho está enlouquecendo".
Eu me juntei á risada dele fracamente.
"De qualquer forma, ele disse que se eu te dissesse uma coisa, ele me daria o cilindro mestre que eu preciso", ele confessou com um sorriso envergonhado.
"Me diga, então. Eu quero que você termine o seu carro". Eu sorri de volta. Pelo menos Jacob não acreditava em nada disso. Isso tornava a situação um pouco mais fácil. Na parede, Edward estava olhando o rosto dele, seu próprio rosto estava sem expressão. Eu ví uma garota do segundo ano com um vestido rosa olhar pra ele com uma tímida especulação, mas ele não pareceu estar consciente da presença dela.
Jacob desviou o olhar de novo, envergonhado. "Não fique com raiva, tá?"
"Não tem jeito de eu ficar com raiva de você, Jacob", eu assegurei pra ele. "Eu não vou nem ficar com raiva de Billy. Só diga o que você tem que dizer".
"Bem - isso é estúpido, me desculpe, Bella - ele quer que você termine com o seu namorado. Ele me disse pra te pedir 'por favor'".
Ele balançou a cabeça com desgosto.
"Ele ainda é supersticioso, né?"
"É. Ele ficou... meio fora de sí quando você se machucou em Phoenix.
Ele não acreditou..." Jacob parou se sentindo embaraçado.
Eu revirei meus olhos. "Eu caí".
"Eu sei disso", ele disse rapidamente.
"Ele acha que Edward tem alguma coisa a ver com isso", eu não estava perguntando, e independente da minha promessa, eu estava com raiva.
Jacob não me olhou nos olhos.
Nós não estávamos nem nos incomodando em nos mexer com a música, apesar das mãos dele ainda estarem na minha cintura, e as minhas no pescoço dele.
"Olha, Jacob, eu sei que Billy provavelmente não vai acreditar nisso, mas só pra que você saiba" - ele olhou pra mim agora, respondendo ao novo tom severo na minha voz - "Edward realmente salvou minha vida. Se não fosse por Edward e seu pai, eu estaria morta".
"Eu sei", ele aclamou, mas pareceu que as minhas palavras haviam afetado ele um pouco. Talvez ele seja capaz de convencer Billy disso, pelo menos.
"Ei, eu lamento que você tenha que ter vindo fazer isso, Jacob", eu me desculpei. "De qualquer forma, você ganhou as suas partes, não é?"
"É", ele ainda parecia estranho... chateado.
"Tem mais?", eu perguntei sem acreditar.
"Esqueça", ele murmurou. "Eu vou arrumar um emprego e conseguir o dinheiro sozinho".
Eu olhei pra ele até que ele olhou pra mim. "Cospe logo, Jacob".
"É ruim demais".
"Eu não ligo. Me diga", eu insisti.
"Ok, mas, Deus, isso é ruim". Ele balançou a cabeça. "Ele disse pra te dizer, não, pra te avisar, que - e são palavras dele, não minhas -". Ele levantou uma mão da minha cintura e fez pequenos gestos no ar - "Ele estará observando". Ele esperou timidamente pela minha reação.
Pareceu uma coisa de algum filme sobre a máfia. Eu ri alto.
"Eu lamento por você ter que fazer isso, Jake", eu ri silenciosamente.
"Eu não me importei tanto assim". Ele sorriu aliviado. Seus olhos estavam apreciativos enquanto vasculhavam rapidamente o meu vestido. "Então, eu digo pra ele que você o mandou cuidar dos assuntos dele?", ele perguntou esperançosamente.
"Não", eu suspirei. "Diga a ele que eu estou agradecida. Eu sei que as intenções eram boas".
A música acabou, eu tirei meus braços.
As mãos dele hesitaram na minha cintura, e ele olhou para a minha perna engessada. "Você quer dançar de novo? Ou eu posso te ajudar a ir a algum outro lugar?"
Edward respondeu por mim. "Está tudo bem, Jacob. Eu cuido dela".
Jacob vacilou, e olhou com os olhos arregalados pra Edward, que estava bem ao nosso lado.
"Oi, eu não te vi aí", ele gaguejou. "Eu acho que a gente se vê por aí, Bella".
Ele deu um passo pra trás, acenando sem vontade.
Eu sorri. "É, a gente se vê depois".
"Desculpe", ele disse de novo antes de se virar para as portas.
Edward colocou seus braços ao redor do meu corpo quando a próxima música começou. Era um pouco agitada demais para dança lenta, mas isso não pareceu preocupá-lo. Eu coloquei minha cabeça no peito dele, contente.
"Se sentindo melhor?", eu caçoei.
"Na verdade não", ele disse resumidamente.
"Não fique com raiva de Billy", eu suspirei. "Ele só se preocupa pelo bem de Charlie. Não é nada pessoal".
"Eu não estou irritado com Billy", ele me corrigiu com uma voz entrecortada. "Mas o filho dele já está me irritando".
Eu me separei pra olhar pra ele. O rosto dele estava sério.
"Porque?"
"Primeiro de tudo, ele me fez quebrar minha promessa".
Eu olhei pra ele confusa.
Ele deu um meio sorriso. "Eu prometi que não ia me separar de você essa noite", ele explicou.
"Oh. Bem, eu te perdôo".
"Obrigado. Mas tem outra coisa". Edward fez uma careta.
Eu esperei pacientemente.
"Ele te chamou de bonita", ele finalmente continuou, sua careta ficando ainda mais profunda. "Isso é praticamente um insulto, pelo jeito como você está hoje. Você está muito mais que linda".
Eu sorri. "Eu acho que você está sendo influenciado".
"Eu não acho que seja isso. Além do mais, eu tenho uma ótima visão".
Nós estávamos rodopiando de novo, meus pés em cima dos dele enquanto ele me segurava bem juntinho.
"Então, você vai explicar a razão pra isso tudo?", eu imaginei.
Ele olhou pra mim, confuso, e eu olhei significantemente para o papel crepe nas paredes.
Ele considerou por um momento, e então mudou de direção, rodopiando comigo até a multidão de pessoas na porta dos fundos. Eu peguei uma olhada de Jéssica e Mike, dançando e olhando pra mim curiosamente.
Jéssica acenou, e eu sorri de volta rapidamente.
Angela estava lá também, parecendo abençoadamente feliz nos braços do pequeno Ben Cheney; ela não olhava pra os olhos dele que era uma cabeça menor que ela. Lee e Samantha; Lauren olhando na nossa direção, com Conner; eu podia dizer o nome de todos os rostos que passaram rodopiando por nós. E então estávamos do lado de fora, na fria, e fraca luz do por do sol que estava sumindo. Assim que estávamos sozinhos, ele me pegou nos braços, e me carregou no chão escuro até que alcançamos os bancos embaixo das grandes sombras das árvores anciãs. Ele se sentou lá, me mantendo embalada no peito dele.
A lua já estava no céu, visível através das nuvens, e o rosto pálido dele brilhava na luz branca.
Sua boca estava dura, seus olhos confusos.
"O ponto?" eu perguntei suavemente.
Ele me ignorou, olhando para a lua.
"É o crepúsculo, de novo", ele murmurou. "Outro final. Não importa quanto os dias sejam perfeitos, eles sempre têm que acabar".
"Algumas coisas não têm que acabar", eu murmurei por entre os dentes, subitamente tensa.
Ele suspirou.
"Eu te trouxe para o baile", ele disse lentamente, finalmente respondendo a minha pergunta. "Porque eu não queria que você perdesse nada. Eu não quero que a minha presença tire nada de você, se eu puder evitar. Eu quero que você seja humana. Eu quero que você viva a sua vida como se eu tivesse morrido em 1918 como eu deveria ter morrido".
Eu tremi com as palavras dele, e então balancei a cabeça com raiva.
"Em que estranha dimensão paralela eu iria para um baile por vontade própria? Se você não fosse milhares de vezes mais forte que eu, eu nunca deixaria você se livrar dessa".
Ele sorriu brevemente, mas o sorriso não alcançou os olhos dele. "Não foi tão ruim assim, você mesma disse isso".
"Mas isso é porque eu estou com você".
Nós ficamos quietos por um instante; ele olhava para a lua e eu olhava para ele. Eu queria que houvesse alguma forma de explicar pra ele o quanto minha vida humana era desinteressante.
"Você me diz uma coisa?", ele me perguntou, olhando pra mim com um leve sorriso.
"Eu não digo sempre?"
"Só me prometa que você vai dizer", ele insistiu, sorrindo.
Eu sabia que ia me arrepender disso quase instantaneamente. "Tá bom".
"Você pareceu honestamente surpresa quando soube que eu estava te trazendo pra cá", ele começou.
"Eu estava", eu interferi.
"Exatamente", ele concordou. "Mas você devia ter outra teoria... eu estou curioso - para o que você pensou que eu estivesse me vestindo?"
Sim, arrependimento instantâneo. Eu curvei os lábios, hesitando.
"Eu não quero te dizer".
"Você prometeu", ele protestou.
"Eu sei".
"Qual é o problema?"
Ele sabia que era pura verginha que estava me segurando. "Eu acho que vai te deixar com raiva - ou triste".
As sobrancelhas se juntaram sobre os olhos dele enquanto ele pensava nisso. "Eu ainda quero saber. Por favor?"
Eu suspirei. Ele esperou.
"Bem... eu achei que fosse algum tipo de... ocasião. Mas eu não achei que fosse uma coisa tão humana... baile!" eu ridicularizei.
"Humana?", ele perguntou vazio. Ele se prendeu na palavra chave.
Eu olhei pra baixo para o meu vestido, dedilhando um pedaço de chiffon. Ele esperou em silêncio.
"Tudo bem", eu confessei rapidamente. "Então eu estava esperando que você tivesse mudado de idéia... que você fosse me mudar, afinal".
Uma dúzia de emoções passou pelo rosto dele. Algumas eu reconheci: raiva... dor... e então quando ele pareceu se recompor a expressão dele ficou divertida.
"E você pensou que isso seria uma ocasião black-tie, não pensou?" ele zombou, tocando a lapela do paletó do smoking dele.
Eu fiz uma carranca pra esconder minha vergonha. "Eu não sei como essas coisas funcionam. Pra mim, pelo menos, parecia mais racional do que um baile". Ele ainda estava sorrindo. "Não é engraçado", eu disse.
"Não, você está certa, não é", ele concordou, o sorriso desaparecendo. "No entanto, eu preferia tratar disso como uma piada, do que acreditar que você estava falando sério".
"Mas eu estou falando sério".
Ele suspirou profundamente. "Eu sei. Você quer mesmo tanto assim?"
A dor estava de volta nos olhos dele. Eu mordí meu lábio e afirmei com a cabeça.
"Tão pronta para isso ser o fim", ele murmurou, quase pra sí mesmo.
"Pronta para esse ser o último crepúsculo da vida dele, apesar da sua vida estar só começando. Você está pronta pra abrir mão de tudo".
"Não é o fim, é o começo", eu discordei por baixo do meu fôlego.
"Eu não valho a pena", ele disse tristemente.
"Você se lembra de quando me disse que eu não me via muito claramente?", eu perguntei, erguendo minhas sobrancelhas. "Você obviamente tem o mesmo problema".
"Eu sei o que eu sou".
Eu suspirei.
Mas o humor dele se virou pra mim. Ele curvou os lábios, e os olhos dele estavam sondando. Ele examinou meu rosto por um longo momento.
"Você está pronta agora, então?", ele perguntou.
"Umm", eu engoli seco. "Sim?"
Ele sorriu e inclinou sua cabeça lentamente até que seus lábios frios passaram na minha pele, bem abaixo do contorno da minha mandíbula.
"Agora mesmo?", ele sussurrou, a respiração dele estava fria no meu pescoço. Eu me arrepiei involuntariamente.
"Sim", eu sussurrei, assim minha voz não teria a chance de falhar. Se ele achasse que eu estava blefando, ele ficaria decepcionado. Eu já havia tomado a decisão, e tinha certeza. Não importava que o meu corpo estivesse rígido feito uma tábua, minhas mãos curvadas nos punhos, minha respiração descompassada...
Ele gargalhou sombriamente, e se afastou. O rosto dele parecia desapontado.
"Você realmente acredita que eu desistiria assim tão fácil", ele disse com um leve tom de divertimento na voz dele.
"Uma garota pode sonhar".
As sobrancelhas dele se ergueram. "É com isso que você sonha? Ser um monstro?"
"Não exatamente", eu fiz uma careta pela escolha das palavras dele.
Monstro, realmente. "Eu sonho mais em estar com você por toda a eternidade".
A expressão deve mudou, se suavizou e ficou triste pela súbita dor na minha voz.
"Bella". Seus dedos lentamente traçaram os contornos dos meus lábios. "Eu vou ficar com você - isso não é o suficiente?"
Eu sorri por baixo dos dedos dele. "Suficiente por enquanto".
Ele fez uma careta pela minha tenacidade. Ninguém ia se render essa noite. Ele exalou, e o som foi praticamente um rosnado.
Eu toquei o rosto dele. "Olha", eu disse. "Eu te amo mais do que tudo no mundo junto. Isso não é o suficiente?"
"Sim, é suficiente", ele respondeu sorrindo. "Suficiente pra sempre".
E ele se inclinou pra tocar a minha garganta com seus lábios frios mais uma vez.

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